Escola Paulista de Medicina
Postgrado en Salud Colectiva

Estudo da Unifesp alerta para os riscos da frequência de jovens nas chamadas festas open bar

Consumo liberado de bebida em festas está associado ao uso de maconha e transtornos psiquiátricos

noticia 17 02 23

Um estudo conduzido pelo Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e que acaba de ser divulgado no International Journal of Drug Policy revelou os perigos que as chamadas festas open bar, aquelas em que se paga um valor fixo para acesso liberado e ilimitado ao consumo de álcool, representam aos(às) jovens menores de 18 anos. Mesmo havendo legislação que proíba a venda de bebidas alcoólicas para adolescentes, infelizmente, há uma frequência considerável deles nesse tipo de evento, trazendo como riscos e consequências não apenas a intoxicação e problemas pelo uso de álcool, como também maior risco de consumir outras drogas e de ter sintomas psiquiátricos.

Para se chegar aos resultados, as pesquisadoras, por meio de questionário anônimo aplicado em sala de aula, entrevistaram 5.213 estudantes do 8.º ano, em 73 escolas públicas brasileiras. No geral, a população estudantil era composta por adolescentes de 13 anos, sendo metade deles meninos e a maioria de classe socioeconômica C (média-baixa), residentes em São Paulo, Fortaleza e Eusébio (CE). Nesta amostra, o consumo excessivo de álcool foi relatado por 1 a cada 5 estudantes, 6% usaram tabaco e a mesma quantidade usou maconha. Além disso, quase 20% deles(as) relataram frequentar festas open bar.

“Notamos muitas diferenças quando comparamos os(as) adolescentes que frequentam festas open bar com aqueles(as) que não frequentam. Do ponto de vista sociodemográfico, encontramos mais meninas de melhor condição social frequentando estes eventos”, detalha Zila Sanchez, professora do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp e coordenadora do estudo. A média de idade foi de 13,5 anos. Entre os(as) participantes do open bar, mais da metade relatou consumo excessivo de álcool no último ano, 20% usaram tabaco e/ou maconha. Além disso, 94,2% relataram exposição à propaganda de bebidas alcoólicas.

Todas as variáveis incluídas na análise multivariada, como idade, cidade, nível socioeconômico, uso de drogas, problemas com o uso de álcool, sintomas psiquiátricos e exposição à propaganda de álcool, permaneceram significativamente associadas à participação em eventos de open bar. De acordo com Mariana Guedes, pós-doutoranda que participou do estudo, “quando comparados(as) aos(às) adolescentes que não frequentaram esse tipo de festa, aqueles(as) que frequentaram têm cinco vezes mais chances de se intoxicarem e de demonstrar problemas pelo uso de álcool, e ainda demonstraram ter o dobro de chances de consumir maconha e de ter sintomas psiquiátricos”.

Para Sanchez, o consumo excessivo de álcool e a embriaguez entre os(as) jovens é uma preocupação de saúde pública, “uma vez que eles(as) tendem a se envolver em consumo excessivo de álcool e comportamentos de risco mais do que outros grupos etários, e ainda são mais propensos(as) a experimentar as consequências negativas de saúde, sociais e psicológicas do consumo prematuro”.

“É fundamental rever o controle sobre a proibição de venda de álcool a menores, assim como a implementação efetiva e monitorada da restrição de promoções e propagandas de bebidas alcoólicas no Brasil. Hoje, não há restrições quanto à venda de álcool a indivíduos embriagados, a idade do comprador não é verificada, os preços são bastante encorajadores e as políticas atuais permitem beber em locais públicos, e tudo isso facilita o consumo. O estudo, nesse sentido, não só reforça esse preocupante cenário como nos traz a urgência de maior rigor e melhor olhar da saúde pública para essa questão”, conclui a professora.

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