Escola Paulista de Medicina
Postgraduate in Collective Health

Sífilis: uma doença fácil de transmitir e que precisa de atenção

Doença pode ser transmitida por relação sexual desprotegida ou da gestante para o bebê durante a gravidez e no momento do parto

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. É uma doença que se apresenta de forma silenciosa, a pessoa não sabe que está doente, podendo evoluir por anos de forma assintomática, levando a graves alterações neurológicas e a morte. São várias as manifestações clínicas, que mudam conforme o estágio em que a doença se encontra. A sífilis coloca em risco não apenas a saúde da pessoa, como também pode ser transmitida para o bebê durante a gravidez. O acompanhamento das gestantes e parcerias sexuais durante o pré-natal previne a sífilis congênita e é fundamental.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que surjam quase 7 milhões de novas infecções globalmente a cada ano. No Brasil, somente em 2021, foram notificados 167.251 casos de sífilis adquirida, 74.095 casos de sífilis em gestantes e 27.019 casos de sífilis congênita (BRASIL, 2022c), com tendência de aumento para os próximos anos.

A sífilis é um grave problema de saúde pública. Se não for detectada precocemente, a infecção pode progredir para seus estágios mais tardios e manifestações clínicas graves, incluindo neurossífilis, manifestações oculares, otológicas e distúrbios cardiovasculares.

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Transmissão e tratamento

A sífilis é transmitida principalmente através do contato sexual desprotegido, que também pode levar a outras IST, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), a gonorreia entre outras. Além disso, a transmissão vertical (da mãe para o feto) pode ocorrer quando uma mulher grávida com sífilis não tratada ou tratada inadequadamente transmite a bactéria para seu filho através da placenta. A sífilis congênita é uma das principais causas de natimortos em todo o mundo, pode causar aborto espontâneo, partos prematuros e infecção congênita em recém-nascidos, determinando sequelas graves se não tratada.

O tratamento padrão recomendado é a penicilina benzatina, indicada para o tratamento de gestantes com sífilis durante o pré-natal, e a penicilina cristalina, para o tratamento de crianças nascidas com sífilis congênita. Ambos são medicamentos de baixo custo e de fácil acesso, disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) em todo o Brasil.

Notificação de casos

No Brasil, a sífilis congênita é de notificação compulsória desde 1985. Posteriormente, a notificação de sífilis em gestantes e sífilis adquirida tornaram-se obrigatórias, em 2005 e 2010, respectivamente. É importante que todos os casos de sífilis que cumpram os critérios de definição de caso sejam notificados e registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). A notificação dos dados com qualidade possibilita subsidiar a formulação de políticas públicas e monitoramento de medidas de prevenção e controle (BRASIL, 2022c). Os dados oficiais relativos à sífilis estão disponíveis ao público, de forma anonimizada.

A notificação é obrigatória nos casos de sífilis adquirida, sífilis em gestante e sífilis congênita, conforme portaria vigente do Ministério da Saúde.

 Perguntas e Respostas 

Qual a diferença entre sífilis adquirida e sífilis congênita?

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), exclusiva do ser humano, que ocorre por contato sexual (sífilis adquirida) e de forma vertical, durante a gestação e no momento do parto (sífilis congênita).

A infecção pode ocorrer sempre que o indivíduo entrar em contato com o Treponema pallidum, após o sexo desprotegico com parceiro infectado, uma vez que a bactéria é capaz de escapar à imunidade natural, (BRASIL, 2022a).

Já a transmissão vertical do agente etiológico ocorre se a gestante com sífilis não for tratada de forma adequada e oportuna, o que acarretará graves desfechos à criança, como baixo peso ao nascer, prematuridade, natimortalidade, óbito neonatal, entre outros (WHO, 2021).

Quais são as manifestações da doença?

A sífilis pode causar graves consequências, sequelas e óbito, se não for detectada e tratada.

Na ausência de tratamento, a evolução da doença ocorre em estágios:

Sífilis recente (primária, secundária e latente recente): até um ano de evolução;
Sífilis tardia (latente tardia e terciária): mais de um ano de evolução.
Os estágios da sífilis são classificados de acordo com as manifestações clínicas:

Sífilis primária (presença de úlcera na região genital; linfonodos regionais);
Sífilis secundária (rash cutâneo, lesões mucocutâneas, linfadenopatia generalizada);
Sífilis terciária (lesões do tipo gomatosas – cardiovasculares, ósseas ou neurológicas).
A sífilis latente é assintomática (BRASIL, 2022b).

Como é realizado o diagnóstico?

O diagnóstico da sífilis é feito a partir da história clínica do paciente, queixas ou presença de sinais e sintomas sugestivos da doença e a realização de testes laboratoriais.

O diagnóstico laboratorial pode ser realizado por método direto ou indireto. O método direto permite a detecção do treponema de material obtido das lesões nos estágios da sífilis primária ou secundária.

A maior parte dos diagnósticos é realizada de forma indireta, por meio de testes sorológicos, amplamente disponíveis na rede de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2022b).

A sífilis é curável?

Sim, a sífilis tem cura.

Tanto o diagnóstico quanto o tratamento da doença estão disponíveis no SUS. O tratamento é realizado com penicilina benzatina e a dose a ser utilizada dependerá do estágio clínico da sífilis. Este medicamento também é o tratamento de escolha para sífilis em gestantes e a única opção para evitar a transmissão vertical.

Após o tratamento completo, é importante monitorar os resultados dos testes não treponêmicos para ter certeza da cura (BRASIL, 2022b).

Como posso me prevenir contra a sífilis?

A exposição ao Treponema pallidum pode gerar reinfecções da sífilis, mesmo com tratamento prévio, e infelizmente não existem vacinas disponíveis até o momento.

A prevenção da transmissão sexual pode ocorrer por meio do uso de preservativos (masculino ou feminino). Além disso, a detecção e tratamento adequado e oportuno de casos identificados e de suas parcerias sexuais são fundamentais para reduzir a transmissão da doença.

A realização de rotinas programáticas de testagem da sífilis, tratamento adequado, oportuno e monitoramento da gestante durante o pré-natal constituem-se em ferramenta fundamental para a prevenção da transmissão vertical, evitando-se a sífilis congênita e as suas graves consequências (BRASIL, 2022b).

Autores

Os autores são do Programa de extensão “Notifica”, resultado da parceria entre o Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do Hospital São Paulo e o Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), que visa congregar ações e projetos extensionistas voltados à Vigilância Epidemiológica. 

Annibal Tagliaferri Sabino: Médico especializado em Ginecologia e Obstetrícia e professor afiliado do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp. Atua no Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do Hospital São Paulo, hospital universitário da Universidade Federal de São Paulo (HSP/HU Unifesp), sendo responsável pela notificação de casos de sífilis congênita. Participa ativamente no Comitê de Sífilis Congênita da SUVIS Vila Mariana/Jabaquara.

Carla Gianna Luppi: Professora adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp e médica do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: atenção primária, infecções sexualmente transmissíveis e vigilância em saúde. 

Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros: Professor associado da Disciplina de Infectologia do Departamento de Medicina da EPM/Unifesp. Presidente da Comissão de Epidemiologia Hospitalar, pesquisador do CNPq e diretor científico da Sociedade Paulista de Infectologia. 

Nivia Aparecida Pissaia Sanches: Enfermeira do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp. Atualmente na Comissão de Epidemiologia Hospitalar - Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do Hospital São Paulo/Unifesp. 

Roberta de Almeida Soares: Médica em Saúde Pública do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp; e médica epidemiologista na Diretoria de Planejamento e Informação em Saúde da SPDM-PAIS. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: atenção básica, diagnóstico de saúde e vigilância em saúde.

Suely Miyuki Yashiro: Médica e coordenadora do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do Hospital São Paulo, hospital universitário da Universidade Federal de São Paulo (HSP/HU Unifesp).

Thais Claúdia Roma de Oliveira Konstantyner: Professora Adjunta do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp, atuando nas áreas de Vigilância em Saúde, Epidemiologia e Bioestatística. Atualmente, é coordenadora da área de Epidemiologia e Bioestatística do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp e membro da Associação Brasileira de Profissionais de Epidemiologia de Campo (ProEpi). 

 

 

 

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