Contexto: Os altos níveis de estresse dos policiais e suas consequências deletérias estão aumentando a conscientização para uma epidemia de problemas de saúde mental e comprometimento da qualidade de vida (QV). Há uma evidência crescente de que as intervenções baseadas na atenção plena são eficazes para promover a saúde mental e o bem-estar entre ocupações de alto estresse.
Métodos: O estudo POLICE é um ensaio multicêntrico randomizado controlado (RCT) com três pontos de avaliação (linha de base, pós-intervenção e acompanhamento de 6 meses), onde os policiais foram randomizados para promoção da saúde baseada na atenção plena (MBHP) ( n = 88) ou uma lista de espera ( n = 82). Este artigo enfoca QV, sintomas de depressão e ansiedade e resultados de religiosidade. Mecanismos de mudança e viabilidade MBHP foram avaliados.
Resultados: Foi encontrada interação grupo × tempo significativa para QV, sintomas de depressão e ansiedade e religiosidade não organizacional. A análise entre os grupos mostrou que o grupo MBHP exibiu maiores melhorias na QV e sintomas de depressão e ansiedade em ambos pós-intervenção (QV d = 0,69-1,01; depressão d = 0,97; ansiedade d = 0,73) e acompanhamento de 6 meses ( QV d = 0,41 a 0,74; depressão d = 0,60; ansiedade d = 0,51), além de aumentar a religiosidade não organizacional no pós-intervenção ( d= 0,31). Mudanças na autocompaixão mediaram a relação entre o grupo e as mudanças pré-pós-graduação para todos os domínios e facetas da QV. O efeito do grupo na faceta de saúde geral da QV no pós-intervenção foi moderado por mudanças no traço de atenção plena e espiritualidade.
Conclusão: O MBHP é viável e eficaz para melhorar a QV e os sintomas de depressão e ansiedade entre oficiais brasileiros. Os resultados foram mantidos após 6 meses. O MBHP aumentou a religiosidade não organizacional, embora o efeito não tenha se mantido 6 meses depois. Até onde sabemos, este é o primeiro ECR de intervenção com base na atenção plena a demonstrar empiricamente esses efeitos entre os policiais. São examinados a autocompaixão, o traço de atenção plena e os mecanismos de mudança da espiritualidade.
Professor Marcelo Marcos Piva Demarzo
Publicado em Frontiers in Psychiatry, v. 12, p. 624876, 2021.