Docente do PPGSC, Richard Miskolci é Professor Titular de Sociologia do Departamento de Medicina Preventiva e da Pós-Graduação em Saúde Coletiva da EPM-UNIFESP e pesquisador do CNPq, analisa a desinformação durante a pandemia de Covid-19 em artigo publicado no boletim de agosto/ n.14 da Cepedisa, núcleo de pesquisa de Direito Sanitário da USP.
A pandemia de Covid-19 é a primeira vivida sob a esfera pública moldada pela hegemonia das redes sociais on-line. O debate público mudou desde que se generalizou o uso de telefones inteligentes, a principal forma de acesso à internet no Brasil desde 2014. A agenda das discussões coletivas passou a ser disputada com os órgãos de comunicação profissionais na nova ecologia midiática em que qualquer um pode criar um perfil ou canal on-line, publicando sua visão sobre os mais variados assuntos. Sob a urgência de saúde atual, passamos a ser bombardeados por informações como nunca, quadro que a Organização Mundial da Saúde (OMS) denominou de “infodemia”¹.
Compreensivelmente preocupadas, as pessoas passaram a buscar informações sobre a origem do vírus, formas de contágio, prevenção, tratamento e vacinas. Em termos sociológicos, o fenômeno que chamam de “desinformação” não pode ser compreendido fora de seu contexto social e histórico. A pandemia de SARS-CoV-2 nos atingiu em meio a uma queda de confiança institucional, na imprensa[2] e pouco tempo depois de eleições fortemente polarizadas em nosso país.
A emergência de saúde se instalou em momento propício à circulação de teorias da conspiração sobre a origem do vírus, polêmicas sobre as formas de prevenção, disputas sobre o tratamento adequado e a confiabilidade das vacinas. A imprensa profissionalizada e a maior parte dos pesquisadores tentaram descrever a desinformação como marcada, sobretudo, pelo excesso de informações e pelo negacionismo.
Diversos analistas consideram que a explosão de informações deixou as pessoas afogadas em notícias, tendo maior dificuldade em selecionar as relevantes e avaliar sua veracidade[3]. A avalanche informativa teria contribuído para a disseminação de notícias falsas (resultado de má informação), mas também de notícias fraudulentas, aquelas criadas propositalmente com o objetivo de manipular parte da opinião pública. Cabe questionar se efetivamente o problema é a quantidade de informações ou a exposição contínua a elas inaugurada pela conectividade perpétua por meio dos celulares. Fato que se agrava entre os continuamente expostos a canais de notícias e jornais, gerando o que alguns estudiosos
chamam de “jornalismo ambiente”[4], uma espécie de ruído informativo de fundo. Assim, em contraponto à tese contextual da “infodemia”, apresento a mais provável do aumento exponencial à exposição midiática que vivemos na nova esfera pública digitalizada. Saiba mais.